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domingo, 11 de maio de 2014

Carta da última palavra

               O silêncio é absoluto como a morte, que vem em nome do nada, não da o mínimo suporte, porém, descansa pleno no velório todo seu trabalho casado ao sono dos justos e injustos amores, tão cafona o silêncio que até calo quando me apaixono, tão escuro que quando penso fecho os olhos, e se fixo em outros é profundo. O silêncio é profundo! É íntimo de todos, é intimidador tão quanto é cárcere dos tímidos.
            As horas se propagam mudas e o mundo nem fala sobre o assunto, o silêncio é a festa de todas as calmas e prisão geral dos túmulos, nada preenche tudo como ele se faz presente no primeiro encanto. Eu rasgaria com um grito a dor de suportar calado se não fosse sagrado do silêncio ser toda resposta, mesmo que em sua maioria seja uma pergunta.
              Minha garganta cheia de silêncio, nunca quebrou o equilíbrio do templo nem por um soluço, que dirá por esforço próprio, enquanto esteve aberta empurrei na goela todo oco de Grand Canyon, quando abri os olhos lhe vi, e uma lasca de cada calada da noite dos Alpes transpassou a carne do meu corpo sem ruído, parecia felicidade, até tocar pela boca o oco da minha garganta, e romper o meu silêncio com o eco da sua queda no meu corpo, já era tarde para dizer que em minha boca fechada não entraria uma moça sequer que me beijasse na surdina da madrugada muda, eu ainda sinto sua falta, você me ensinou a lidar com o barulho, mas de tudo que levou o que mais faz falta é o silêncio.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O emigrante do tempo


          



               Ultimamente, Eduardo, o seguro de si, aquele que detestava folgas e gente folgada, que achava incoerente muita cultura dentro de pouca roupa e contracultura com gente desnuda, que exortava em ímpeto à sua filha que “tudo que não fosse labuta era lazer”, andava bem desconfiado que seu trabalho, o ofício que edifica o homem! A jornada! Estava lhe roubando a luta.
                 
                 – Mas veja que injustiça Tom, Eu! José Eduardo Campos da Silva! Que nasci mais insignificante que meu sobrenome, numa miséria em que nascer vivo era milagre fui o terceiro que sobreviveu dos onze que saíram da barriga, na matemática da morte faço parte do resto permaneceu. Não tem cabimento essa fadiga Tom.
              – Tom não Eduardo! Antôim!An-tô-im! Repreendeu Dona Dulce do alto de sua mania de escutar oração atrás da porta, desde quando nem porta havia.     
             – Antôim, respeite o Santo! E eu já disse que Santo Antôim num é santo pra essas reza!

           Noventa anos cravados na terra que há de comer tudo, menos seus ossos, sua história e sua audição absoluta, Dona Dulce só espreitava oração, não era mulher de espalhar conversa alheia, adquiriu esse hábito por tradição, desde que Valdemar, tio mais novo de Eduardo pediu um peão, um circo e um jumento que voava a Santo Expedito. Contava isso erguendo a voz, o dedo e a razão sem sucumbi a envergadura cervical:
      
          – Agora me diga! Onde já se viu pedir um peão a um santo das causa impossível?

             Era aí que Sr. Aluísio entrava:

             – E eu que pensava que o problema era o jumento.

            Todos riam da mesma história que só tinha de nova a risada dos netos, o resto era o uníssono obrigatório gargalhar dos filhos no teatro do domingo na casa de Dona Dulce, ou seria, caso o segundo A.V.C. não tivesse tirado de Seu Aluísio o lado que se movia, e o terceiro herdado a vida que vegetava o pai de Eduardo, Tibério, João, Aluísio Jr., Aparecida, Lia, Nena, Vera e os trigêmeos que do espólio da vida não levaram nem o nome, morreram antes que abrissem os olhos.
        Eduardo era o mais jovem dos filhos homens, nasceu para os cálculos aprendendo a contar os irmão que faleciam, media o caminho até a escola em léguas e nunca teve mais que um caderno, no sábado lhe restava a alegria de fazer as contas na areia, no meio da feira onde iam conquistar o apurado da semana, com um pedaço de madeira que equivalia uma caneta, benzendo e repreendendo as malicias que levariam as custas de seu pai analfabeto, fazia disso sua glória, a vida agrária não trazia gosto, só levava dele o peso e o suor, dizia que era bom mesmo em calcular, que resolvera os Cálculos Renais de Dona Dalva dos temperos, ali mesmo, no meio da feira de Formosa, só depois veio saber que a operação de Dona Dalva, não era matemática, dali então, decidiu que ia ser médico, só para não sair por mentiroso, não era homem de ecoar essa história pela casa, só quando extrema, a lição de moral fosse necessária, se tornou médico ao fim das contas, o que lhe valia de vitória, já que fora o mentiroso da Feira de Formosa mesmo sendo Cardiologista.
 
           – Que coisa feia mãe! Escutar oração dos outros! Onde já se viu?
           – Fei é chamar Santo de Tom, e baixe o tom pra falar comigo que sou sua mãe!
           – Baixo não!
           – Eduarrrrrdooo...
           – Baixo não mãe, o coitado já tá de cabeça pra baixo...
           – Eduardo Campos da Silva!

           Dona Dulce não entendeu a piada, mas compreendeu o desdém.

          – Ta bom mãe, me desculpe. “Antoim”!

         Apontando o dedo e tocando seu filho com o olhar torceu a situação até pingar a última palavra, que por ventura, respeito e imposição era sempre sua:

          – “Santo Antoim”, e já disse que num é santo pra essas reza!

           Para cada fim de domingo que arrancava de seu lado menino a obrigação de ser  o homem da segunda-feira, Eduardo tinha o trajeto de casa, era o disparo e o descanso, ele revia e revivera em meia hora sua vida inteira trafegando e concluindo entre um semáforo e outro o que fora e o que era, faltou-lhe no decorrer da estrada o que hoje lhe sobrava, tinha sombra, sacada, piscina, sauna, saúde e saudade, só não sabia de que, mas não tinha conflitos, nem tempo para exercer além do ofício a existência, resistia a sentar e sentir, só sentava para trabalhar, caminhava para chegar, achava que rotina era um hábito e trajava essa batina todo santo dia útil e domingos alternados, chegava a porta de casa e de dentro de um forte blindado que insistiam em chamar de portaria, alguém que ele nem via lhe permitia a entrada, não lhe importava quem abrisse o portão do Pallace de León, só entrava porque morava, estacionava pois havia de guardar o carro, só deitava porque dormia, afinal, amanhã por mais segunda-feira que fosse era sempre um primeiro dia.
          Enquanto a segunda-feira, roubava o descanso, matava a felicidade e destruía a disposição de Lis, secretária de Eduardo, ele atrasava por descuido e ainda inconformado reclamava com seu ego e difamava seu âmago: “tão pontual, não sei nem mais ser o que era”.
           Eduardo atrasara quase como um ritual, passava distante do que cumpria há anos atrás com excelência, o que chamava de fadiga eu traduzia como idade, sei disso pois o mesmo me dizia que não importava o quanto olhasse no relógio estava sempre atrasado, não importava quanto esforço fosse necessário ao desafio da jornada, paralelo aos compromissos estava lá, sem cinismo, simples e justo, o desafio das horas, Eduardo era vítima do tempo e achava que parar para notar isso era perdê-lo, talvez não calçasse os sapatos tão rápido quanto antes, ou fosse tão veloz em vestir a calça, ou mais! Talvez a culpa fosse da diarista que fazia o café instantâneo atrasado, mas já não levava mais os filhos ao colégio, como podia perder esse tempo ganhado? Aos vinte e cinco Eduardo acordava cada dia mais velho, o tempo lhe comia vivo e ele ainda pensava no futuro, agora com sessenta anos, sufoca por um desafio a fim de não perder o sentido, mas não mantém coerente a relação tempo e distância até o trabalho.
        Nesse dia não entrou, transpassou como um projétil até sua sala, pressurizou a porta como se congelasse o tempo, olhou para o relógio que parecia gargalhar da sua frustração, trincou os dentes de ódio e se dirigiu a porta a fim de constatar se de fora, alguém ouvia aquela risada cronológica de semitonamentos perfeitos em intervalos de um segundo, quando pôs o ouvido no entalhado maciço escutou três batidas, que caso tivesse herdado a audição sensível de Dona Dulce lhe perfurariam o tímpano:

           – Dr. Eduardo? – Era Lis e toda sua fidelidade profissional.
           – Que susto do caralho. – Sussurrou. Se não haviam escutado o gargalhar do relógio, o “caralho” sua secretaria captou, voltou a mesa em passos mais sutis que o “tic tac” do seu inimigo, e soltou um “Pode entrar”, num tom equilibrado totalmente avesso a situação.
           Lis, lhe passou sua agenda inteira como se ele não soubesse do que se tratava mais um dia, ele ouvia o rebolar das palavras perdido na incerteza daquele ponteiro, partindo de um mesmo ponto e voltando pro mesmo lugar sem tornar a ser igual, contornando de sessenta em sessenta segundos uma segunda de trabalho, isso era tudo que o relógio tinha a receber do tempo, trabalho! Por isso ria, sabia que mesmo trabalhando a seu favor não seriam poupados seus dias até que alguém esquecesse de trocar sua bateria, contudo, no máximo pararia de girar, não retardaria o badalo mas teria tempo para pensar nas voltas que a vida dá. Pá! Um tapa na mesa e a explanação de uma ideia:

              – É isso!
              – Isso o que doutor?!
              – Eu tô tirando a pilha!
              – Que pilha?!
              – Do relógio!
              – Que relógio?!!!
              – Do meu!
              – Mas o senhor nem usando relógio está...

            Só então percebeu que não era Lis que falava, mas sua primeira consulta do dia. Além da vida, o tempo achou pouco e veio lhe roubar a sanidade e a compostura, constatou que passara literalmente a “olhar para o tempo”, se projetava no vago, divagava no íntimo, um pensamento tão profundo que achava inconcebível se encaixar num sertanejo domado pelo esforço, quando retomava o instante nunca estava onde parou, e esse anjo carniceiro, oxigênio da vida não economizava um único milésimo de sua existência, sobrevoava sua carcaça numa performance encantadora, degustando cada pedaço de Eduardo inerte aquela arte que o tempo tem de passar desapercebido enquanto ele deleitava no existencialismo, batizou isso de “tirar a pilha”, razão de chegar atrasado, não era o trabalho que lhe roubava a luta, mas o tempo que não dava trégua, precisava conversar comigo, precisava ouvir a voz de Dona Dulce que valia mais de conforto que suas palavras, precisava se aconchegar em sua mãe como um lugar seguro enquanto ainda era possível, precisava de um desafio novo para ocupar sua mente, distrair-se num novo ideal tão inerente a realidade para não se destruir no principio da incerteza do que estava por vir, Eduardo ainda não tinha percebido que o ideal não existe pois esta no futuro e o futuro não existe até que aconteça, o relógio sorria e ele clinicava pensando que não pararia nada daquilo, nem aquela gargalhada.

terça-feira, 18 de março de 2014

Quem não tem eu lírico usa óculos escuros

                    Todo sofrimento é um parto,  possivelmente lhe dará um filho ou só queira lhe dar a luz, assim como as melhores coisas da vida, as piores também não tem preço, elas parecem estar uma dentro da outra, é um caos organizado, bonito, atraente e bem vestido, é preciso morrer para que nasçam e nascer para que morram, o intervalo entre isso se chama oportunidade, há quem chame de vida, esses são os que não sabem aproveitar oportunidades. 
                       Entrei divagando depressa no consultório do Dr. Luis com intuito de atrasar o diagnóstico:
                       
                      -- Quem não tem eu lírico usa óculos escuros, eu suspeito que por trás de cada Pierre Cardin e Ray Ban se esconde uma fuga a salto fino em cima de um Louboutin, quatro anos na graduação de psicologia, especialização, mestrado, doutorado em filosofia, uma vida tentando entender a vida! Tudo isso para acabar usando um eu lírico em vez de me esconder num modelo aviador tipo Maverick em Top Gun, e veja só? Não tenho um óculos dourado e ofuscante como o seu Dr. Luis. 

                      Ele sorriu quase perdendo a pose enquanto falava meu nome com um  ar de sabedoria que a idade nem lhe permite.

                      -- Ai Fernando. -- Tocou a mesa recompondo a imagem. -- Puro charme Fernando! Puro charme de um velho proctologista que ainda da conta do recado, mas confesso! É péssimo usá-lo no trânsito quando se tem um olho de vidro, enxergar só com um olho  e ver tudo escuro por opção, só pode ser por pura vaidade. 

                       Suspeitei que ele não tivesse entendido nada da minha divagação, que tivesse sorrido por conveniência, afinal só tinha me visto três vezes em sua vida, uma quando o procurei por indicação de um amigo e por já estar acima da idade aconselhável ao exame de próstata, outra por uma crise desajustada de hipocondria, e hoje! Cheio de exames. Eu olhei raso a fim de crucificar minha dúvida e perguntei:

                         -- Conta do recado? 
                         
                         Ele respondeu profundo.
           
                    -- Conta do recado. Eu queria dirigir tão bem quanto faço sexo, mas assim ta bom, transo mais que tenho carros, e as mulheres de hoje custam quase um seminovo, não sei se as mulheres que estão caras ou os carros que andam muito baratos, de fato, o trânsito anda insuportável!
                        
                          Por mais inacreditável que pareça, este é o melhor proctologista de minha cidade, e isto, foi a última coisa que ouvi antes de saber que tenho dois, no máximo três meses de vida, este é o herói de meia idade que poderia arrancar uma laranja da minha próstata antes que houvesse uma plantação delas lá, mal suspeitava ele que eu andava num carro popular financiado, que atrapalhava seu trânsito e custaria menos que uma mulher não fosse os juros, eu e toda classe C responsáveis pelo adoecimento do tráfego dificultando a vida dos associados a Federação de proctologistas com olho de vidro. Estava resolvido! Dr. Luis não entendera nada! Aposto que não sabia se o Maverick era o Val Kilmer ou o Tom Cruise! Só sorriu por pena, pois ia dizer que tenho câncer.
                        Antes que abrisse a porta daquela sala e desse para a porta da rua, ou para a maior crise existencial que já tive na vida, ouvi uma voz complacente:

                         -- Fernando... -- Me chamou Dr. Luis sereno, tirou seu Ray Ban clássico do bolso e me entregou.-- esse é seu, pode ficar.
                       -- Obrigado. Falei. Mas pensei: "Obrigado seu grande filho da puta, agora eu tenho dois meses de vida e não sei se você não entendeu nada, ou estava se escondendo." Repeti isso em minha mente três vezes, odeio esse TOC, odeio esse TOC, odeio esse TOC.
                            -- Muito obrigado Dr. Luis, mas não posso aceitar seu presente, tenho eu lírico demais para usar seus óculos escuros.

sábado, 15 de março de 2014

A sétima sala


                 Quando enjoei de todas as nossas músicas pensei ter lhe superado, mas aí senti seu cheiro, encontrei um paradoxo, e o pior! Ele nem estava em você! Me apaixonei de novo, mas agora ouço outras músicas, você agora é outra, ou eu seria o outro?                       
                     Sendo mais claro, eu nos seccionei! Nossas músicas na sala um, promessas, planos e projetos na sala dois, lembranças sala três, sexo sala quatro, jeitos e gestos sala cinco, tonalidades e cores na sala seis, e por último, seu cheiro, "SALA 7", tranquei a porta e fechei nossa repartição uma secção por vez, era o fim, levei meu cheiro e deixei o seu, girei a chave como um golpe de misericórdia e sangrei aquela porta até a morte.
                       Na sala seis as paredes tinham tons de pele quase humanos e o piso era quase translucido como olhos d'água, eu tentei não tocar nada, mas o chão refletia o teto como se olhasse nos meus olhos e antes que as paredes me abraçassem, bati a porta, girei a chave como um golpe de misericórdia e sangrei aquela porta até a morte. 
                     Na sala cinco parecia tudo tão simétrico que saí a fim de não quebrar a proporcionalidade, só cabia você naquela sala, eram muitas peculiaridades, na sala quatro só apaguei as luzes pois era sempre assim que era, com as luzes apagadas, o resto ficava entre quatro paredes, em ambas girei a chave como um golpe de misericórdia. A sala três estava cheia, repleta, e se enchia cada vez mais do som que atravessava as paredes da sala quatro, a sala dois, essa sim! Era perfeita! Ampla e bem planejada, afinal guardava planos, tudo regado ao som que atravessava as paredes dá sala um, era uma cena de filme em seu ápice, fechei a porta bem devagar, girei a chave como uma golpe de misericórdia e saí de lá mais maduro.
                   Assim que entrei na sala um, diminui o volume, e decidi que me sentaria naquele santuário até encher o saco da play list, quando resolvi sair de la, já fazia a barba há uns dois anos, tinha emprego fixo e não morava com meus pais, desliguei o som, encostei a porta, dei uma volta na chave e notei que por debaixo da porta da sala sete e pelas brechas seu cheiro se espalhara por todo corredor, entrei de volta na sala um, por debaixo dá porta seu cheiro estava lá, sala dois, seu cheiro, sala três seu cheiro outra vez! Foi assim na quatro, na  cinco e seis! Só me restou a " SALA 7 ", nem cheguei a tocar na chave, como um golpe de misericórdia você entrou em mim e me sangrou até a morte, nasci de novo, acho que agora sou outro, o outro.

domingo, 2 de março de 2014

Talvez um domingo...



                         

                          Talvez eu precise parar de dizer que é tarde, ou parar de começar parágrafos com "talvez", talvez... não contabilize tantas misérias quanto acho ter, achar... "Achar": O talvez das suposições. Achar: Talvez: fico dando voltas em mim até furar o chão, já que o limite que a terra me dá parece ser pouco para minha depressão de domingo ao invés de começar a ser criança outra vez, explorar o espaço, me expedir no que posso ou ser essa broca de carne, ossos e pensamentos retóricos perfurando o tempo, assistindo o carnaval como um imenso domingo, não falo daqueles domingos que brilham e todos mergulham no lago parado da felicidade, que tem cheiro de mãe e almoço, que tem cheiro de família, nesse domingo não preciso fechar os olhos para sentir o que sou, eu ouço o gargalhar dos meus sobrinhos relevando o peso da insatisfação que qualquer homem digno de uma barba branca, que já era ríspida desde o balançar das minhas fraudas tem o direito de ter, eles gargalham e pensam, ou "acho" que pensam: "Deus! como podem cabelos arranhar tanto?! Esse deve ser o homem mais forte do mundo", assim como eu pensava quando minhas orelhas ardiam. Sim, esse é o homem mais forte que já conheci em toda minha vida, que anda devagar sobreposto o peso dos erros que cometera, devido o crescimento dos filhos, o nascimento dos netos, para sorrir aos domingos os devaneios de um bilhete não premiado de loteria e contrariar só de pirraça a fidelidade companheira, que sorri simples afim de fazer sorrir os já criados e as criaturinhas, os padrinhos e afilhados, agregados, e os lembrados no porta retratos do apara.dor, eu acho... talvez... que o tempo seja o preço da felicidade em família. Fora isso, eu detesto domingo, por que a segunda é no outro dia, disso... eu tenho certeza.   

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Mira na cela

A felicidade do pouco
É um palco de estar e ser o que quiser,
É ser tudo e estar no nada,
É ter nada e estar no todo,
É ter saúde e não ter sorte,
É usar terno e não ser eterno,
Sortudo daquele que não é nada
e ainda assim completa o todo,
Na plenitude de aplaudir,
de ser o palco e ser o povo,
de assistir o próprio estado,
de estar no mundo e ser o mundo!
Não existe moda!
Existe só o modo de ver.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Panorâmica


Cheiro de mãe na minha casa,
trincheira de almofada, cabana de cobertor,
reclama da brincadeira,
joga lama da escavadeira no ventilador,
cheiro de mãe na cabeça,
não tem quem esqueça de noite,
notei que aquece, quando faltou.

Cheiro de mãe na minha casa,
tolha molhada na cama, distorção de guitarra,
reclama da zoeira,
da zuada do amplificador,
cheiro na mão de madrugada,
amor de cão farejador.

Cheiro de mãe na minha casa
alaga a sala de pudor,
reclama do alargador, da barba,
sinto cheiro de mãe na calçada
amor, farejador na alma,
a falta, amplificador.