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domingo, 11 de maio de 2014

Carta da última palavra

               O silêncio é absoluto como a morte, que vem em nome do nada, não da o mínimo suporte, porém, descansa pleno no velório todo seu trabalho casado ao sono dos justos e injustos amores, tão cafona o silêncio que até calo quando me apaixono, tão escuro que quando penso fecho os olhos, e se fixo em outros é profundo. O silêncio é profundo! É íntimo de todos, é intimidador tão quanto é cárcere dos tímidos.
            As horas se propagam mudas e o mundo nem fala sobre o assunto, o silêncio é a festa de todas as calmas e prisão geral dos túmulos, nada preenche tudo como ele se faz presente no primeiro encanto. Eu rasgaria com um grito a dor de suportar calado se não fosse sagrado do silêncio ser toda resposta, mesmo que em sua maioria seja uma pergunta.
              Minha garganta cheia de silêncio, nunca quebrou o equilíbrio do templo nem por um soluço, que dirá por esforço próprio, enquanto esteve aberta empurrei na goela todo oco de Grand Canyon, quando abri os olhos lhe vi, e uma lasca de cada calada da noite dos Alpes transpassou a carne do meu corpo sem ruído, parecia felicidade, até tocar pela boca o oco da minha garganta, e romper o meu silêncio com o eco da sua queda no meu corpo, já era tarde para dizer que em minha boca fechada não entraria uma moça sequer que me beijasse na surdina da madrugada muda, eu ainda sinto sua falta, você me ensinou a lidar com o barulho, mas de tudo que levou o que mais faz falta é o silêncio.

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