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domingo, 11 de agosto de 2013

A deriva em vênus


                  “Arrumei o quarto por medo de você descobrir como realmente sou, as camisas amassadas espalhadas pela cama falam muito sobre mim.”  Brinquei.
                  Mas nesse momento inexorável sua voz reverberava num único segundo questionável que absorvia seus sentidos perguntando “Quem ele é de verdade? O que ele finge ser? O que ele finge ser é o que decidiu ser ou vai viver nesse personagem?” Daí você encerra com a conclusão final desse espetáculo cortante:
                    “Mesmo que ele viva nesse personagem pra sempre não vai ser realmente ele, vai ser uma farsa, eu me apaixonei por uma farsa!”
                    Conclui nesse instante que arrumar o quarto, a casa ou sua mesa no trabalho não pode ter sentido, motivo, e criei a primeira regra da crise: “Nunca, sobre qualquer circunstância, arrume nada por ninguém.” Chegar na bagunça é uma dádiva, conhecer o fundo do poço alheio é assistir ao desespero de estar na extrema liberdade, sem regras e sem regalias, mas é por não ter medo de perder por não ter nada que temo ser livre.

                      “Preciso me sentir vivo, gosto do medo, gosto dos motivos, gosto de ter medo de perder seus gestos, de tremer ao esbarrar nos seus defeitos, de tombar sua risada alta como um patrimônio e ter medo que o tempo estrague sua razão, de me privar de prever seus atos para não me machucar nos ocorridos...  Foi por isso que arrumei o quarto, mas vocês mulheres entendem tudo errado.”

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